quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MOEDAS DE HORTELÃ.



O rapaz era um cinéfilo, um viciado em filmes mesmo. Não gostava de futebol, então as quartas, aos sábados e aos domingos ia rotineiramente ao cinema, principalmente quando já tinha estourado todo o estoque de DVDs das locadoras em que era cadastrado. Com uma agenda cheia assim, dispensava as baladas, talvez por isso não tinha namorada, todavia, tinha liberdade plena para vê filmes de qualquer gênero e categoria. Dos mais entediantes filmes de arte, daqueles que a gente só assiste pra dá uma de intelectual, aos pitorescos filmes “B”, nada escapava: animações infantis, terror coreano, apocalípticos, comédias românticas, assistia a tudo. Saia de casa para o cinema sem se quer dá uma olhadinha na programação na agenda cultural do jornal. Chegava lá, escolhia o filme e pronto.
Reparou que a moça da bilheteria, sempre na hora de passar o troco perguntava: “Aceita o troco em balas?”, ele, gentil como sempre, aceitava e enchia o bolso com bombons de hortelã e se dirigia à sala de projeção.
E assim os dias se passaram e nunca haviam moedas para o troco, somente balas de hortelã. Imaginou o lucro exorbitante que o dono do cinema tinha com as vendas compulsórias dos bombons, e, na gratificante comissão que a mocinha da bilheteria recebia a cada bombom vendido. Ficou puto!
Certa tarde, após esperar pacientemente na fila chegou à bilheteria com um saco cheio de balas de hortelã e disparou: “Uma entrada, por favor?”. A moça ficou atônita.
“Desculpe senhor, mas eu só posso aceitar o pagamento em dinheiro ou no cartão...”  avisou a assustada atendente.
“Bom – argumentou o rapaz – Eu venho neste cinema todos os dias, e sempre recebo meu troco em balas de hortelã, não vejo problema nisso. Se eu posso receber o troco em bombom, não há nada de errado em a senhora me vender o ingresso por estas balas de hortelã. Pode contar, é exatamente o preço da entrada.”
A moça, demonstrando sinais de nervosismo, afinal de contas a confusão já estava armada e os outros clientes, que estavam na fila, se aglomeraram em frente a bilheteria dando razão ao queixoso, tangenciou: “Bom, o senhor vai ter que vê isso com o gerente....” diz a moça desconcertada. “Então, o chame, por favor...” responde o rapaz.
Ninguém mais entrou no cinema. Quem seria louco de perder o final de uma historia dessas?
O gerente chegou fingindo certa segurança, pois o avisaram antecipadamente da situação, foi logo perguntando: “Algum problema?”
“O problema é que a sua atendente não quer receber meus bombons em pagamento pelo ingresso!”- exclamou o jovem.
“O senhor há de convir que não é a moeda adequada ...”-retrucou o gerente.
“Mas, é a moeda adequada para o troco? Pois é o que ela me devolve todas as vezes que venho aqui! – disse o rapaz com indignação.
“Bom, é um costume universal se dá o troco em bombons, todo mundo faz isso.”
“Sendo assim,é um costume universal se chamar a polícia, quando a gente percebe que alguém está sorrateiramente  metendo a mão no nosso bolso” – e começou a gritar  bem alto: “Polícia! Socorro! ladrão!”
O gerente na maior calma: “Desculpe, senhor, mas, qual mesmo é o sabor de seus bombons?
“São balas de hortelã.”- respondeu.
“Por que não disse logo? Eu adoro balas de hortelã...”- virou-se para a atendente –“Ôh, Ritinha, pega logo esses bombons e vê se dá um desconto para o moço!!!”
A gargalhada geral não ofuscou o riso de satisfação do rapaz.

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