quarta-feira, 7 de setembro de 2011

NÃO ME FALE A VERDADE


Faixa  de "Hipnótica", o novo CD da Banda Mr. Simple, "Não me fale a verdade" é uma parceria minha e do José Raimundo Junior, meu cunhado, que está se dedicando mais às composições e tem criado coisas surpreendentes, que espero em breve postar aqui.
A idéia surgiu a partir da frase titulo. Embora pareça piegas, na verdade a intenção é brincar com a vulgarização dos sentimentos que está presente na maioria das canções que despontam nos "tops" das rádios brasileiras.O amor romântico é para ser belo e não patético, essa é a mensagem.
Foi criada como um coutry e tomou tons de blues na versão inédita do meu amigo Rodrigo Castelo Branco. A leitura do Paulo Pellegrini e companhia (MR. SIMPLE) carrega um tom festivo ao conformismo do personagem, enfatizando o aspecto irreverente da canção. A pegada rock in roll da banda nesta faixa lembra "Raimundos" para alguns, outros comparam com o som da rapaziada nova. Bom, a MR. SIMPLE tem personalidade musical e está acima de comparações, basta ouvir os couvers que eles gravaram, como "Você não serve pra mim", "London, london" e "Piano bar", para confirmar, eles arrebentam.


sábado, 21 de maio de 2011

TALISMÃ DE OURO



Áudio de uma gravação Demo. Compus “Talismã de Ouro” para um projeto de um novo grupo de bumba-meu-boi que não foi adiante (seria o terceiro em que me envolvo na criação e fundação, depois do “Boizinho Incantado” e do Grupo “Mirantes da Ilha”).  No estilo Boi-de-Viola, que inventamos para o Boizinho Incantado, esta Toada é uma Chegança, também denominada “Chegou”, no auto Tradicional representa o momento em que o batalhão já está completamente no terreiro, após o Guarnicer (reunida) e o Lá vai ( entrada).

sábado, 5 de março de 2011

DONA DA PRIMAVERA



Antes do sol raiar a mulher amanhece
Com cheiro de café tempera o dia
Com afago desperta a cria
Com um beijo difunde o riso
Começa a luta
Lá fora o batente a espera
Ocupa o lugar que antes não era dela
Causando espanto nos olhos de quem a desdenha.
Antes era só linda.
Hoje sabe, mais ainda...
E ensina.
A primavera lhe pertence
Não lhe foi dada, foi conquistada.
As que apanharam, as que foram torturadas.
As que sofreram abusos, as que foram assassinadas.
As que foram descartadas ou trocadas.
As que tiveram o coração dilacerado:
As mães da praça de maio
Ou dos meninos da candelária,
Maria da Penha, Margarida, Maria Mineira Naê,
Olga, Joana D’arc, Maria, a mãe do nazareno sacrificado.
A operária,
A mãe solteira,
A desempregada,
A prostituta desvalida,
A doméstica confundida,
A dona de casa, a subordinada.
As que receberam flores,
Têm sua primavera!
As que cultivam o jardim,
Têm sua primavera!
As que simplesmente colhem,
Têm sua primavera!
Até as que desfolham um mal-me-quer,
Também têm sua primavera!
No fim da tarde para casa retorna,
Um outro trabalho a espera
É o filho que chora inconformado,
Enquanto a casa e o mundo estão às avessas.
A mulher chora por qualquer bobagem:
Pelo marido que saiu só para comprar um cigarro e não voltou,
Pelo filho que tem febre,
Pelo pão que falta,
Pela oportunidade que não veio,
Pelo carinho que com o tempo foi se perdendo,
Pela dor de cabeça que só ela sente,
Por que só ela se aborrece,
Só ela lembra a data do aniversário de casamento,
Só ela quer discutir a relação,
Só ela controla os gastos...
Então ela chora
Porque tem coragem,
Porque ela pode,
Porque ela quer,
Porque ela consegue
A mulher chora...
E depois adomerce!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

GEORGE CASTRO EU VOU LANÇAR A REDE



Composta pelo meu irmão George Castro, que se dedica a música cristã, “Eu vou lançar a rede (animado eu tô)” foi inicialmente trabalhada como musica sacra, mais melodiosa e inspiradora. Ao ser escolhida para ser a música oficial do Rebanhão 2011, ( evento católico que ocorre nos dias do feriado do carnaval) pela Renovação Carismática Católica, o produtor musical Marcos Franklie ( Marquinhos)  deu a ela um tom mais festivo, lembrando as marchinhas de carnaval.
Estive no Rebanhão 2011, foi uma experiência bem interessante. Sou católico e de formação progressista, aos moldes  da Teologia da Libertação, mas tive lá a oportunidade de conhecer mais a fundo a mística dos carismáticos, me despir de meus preconceitos e aprender. Me entreguei de corpo e alma a aqueles momentos  de contato direito  com a Santíssima Trindade e Maria, sair de lá abençoado, perdoado, curado, esperançoso e mais cristão. Recomendo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O CASAMENTO DA JUMENTA.


Imagem: Gustavo Saldanha.

Quando seu Teobaldo se separou da mulher para viver maritalmente com Firminda, sua jumenta e companheira de trabalho, foi um escândalo. Virou até manchete de jornal. O casal ficou famoso e chegou ao ponto de receber um convite para fazer um filme, daqueles que não se pode assistir com a família reunida na sala.
O namoro começou por acaso. Teobaldo já atormentado com as apurrinhações de Clementina, sua mulher, queixava-se a Firminda, exímia secretária, especialista no ofício de puxar carroça. Firminda ouvia tudo com atenção e carinhosamente lambia as mãos do seu dono. Teobaldo retribuía o agrado, acariciando o lombo da companheira. Firminda já esperava com ansiedade por aqueles momentos de profunda intimidade e Teobaldo, durante a jornada de trabalho, já não batia com força na jumenta, temendo machucá-la ou magoa-la, o que poderia levar ao fim aquela bonita amizade.
Certa tarde, Teobaldo se deu conta que reparava em Firminda.Tinha um jeito faceiro e fazia charme ao tropiar. No povoado não havia jumenta mais bonita que Firminda.
Uma noite aconteceu. Teobaldo retirava os paramentos da jumenta, quando a viu assim, totalmente despida, encheu-se de desejo, aproximou-se com cautela e tocou lascivamente o corpo do animal. A jumenta, com um olhar de entrega, aceitou a carícia de Teobaldo e, dominados por uma força maior, renderam-se perdidamente ao amor, sendo assim todas as noites que se seguiram. Dentro de três meses, sem pestanejar, Teobaldo pediu o divorcio a Clementina e pôs a jumenta dentro de casa. Firminda deixou de ser empregada para assumir a condição de sócia-gerente nos empreendimentos de seu concubino.
Iam juntos a toda parte, exceto para a igreja, pois o padre não aceitava o amasiamento, ainda mais entre criaturas de espécies diferentes. À noite faziam amor até que o sono chegasse. Teobaldo era de uma fidelidade só!
Depois vieram as brigas, Teobaldo morria de ciúmes de Firminda. A molecada da região vivia tentando prevaricar com a jumenta, ainda mais após a bichinha ter ficado famosa. Muitos marmanjos e até homens velhos olhavam com desfrute para aquela formosa dama de quatro patas. Os outros jumentos, estes sim, nem escondiam suas intenções. Pelo contrário, as exibiam sem o menor pudor.
Até que um dia aconteceu o pior. Firminda estava pronta para procriar e Teobaldo a acompanhava para uma consulta ao veterinário. Quando se aproximaram da clínica, um outro jumento, sentindo o cheiro que exalava do corpo de Firminda, afoitamente partiu para cima da mesma e a possuiu desavergonhadamente no meio da rua, na frente de todos e do atônito Teobaldo. Firminda relinchava de prazer, foi um escândalo!

Teobaldo não surrou sua companheira com a chibata como todos esperavam. Separou-se de Firminda, vendendo-a em um leilão (já que eram muitos os pretendentes). O pobre homem não voltou para Clementina e nem se casou com outra mulher. Dizem que anda por ai... de bar em bar, tomando pinga, contando para todos suas desventuras amorosas e maldizendo Firminda, aquela ingrata!

EU PLANTEI UM FEIJOEIRO.


EU PLANTEI UM FEIJOEIRO
NUMA BOLINHA DE ALGODÃO
COM ÁGUA E LUZ O DIA INTEIRO
NÃO É QUE APARECEU MAIS FEIJÃO!

COM O FEIJÃO SE FAZ FEIJOADA
COM LINGUIÇA, TOCINHO E AGRIÃO,
PODE MISTURAR UM MONTE DE COISA
MAS, O PRINCIPAL É O FEIJÃO.

TEM FEIJÃO PRETO E FEIJÃO BRANCO
O FEIJÃO TEM CADA NOME ENGRAÇADO
TEM UM QUE SE CHAMA QUEBRACADEIRA,
TEM MULATA GORDA E FEIJÃO RAJADO

EU PLANTEI UM FEIJOEIRO
NUMA BOLINHA DE ALGODÃO
FICOU NO ESCURO E SEM AGUA
AGOR A NÃO TEM MAIS FEIJÃO!
......................
Sobre a obra:

POEMA INFANTIL COMPOSTO EM PARCERIA COM LUIS FELIPE, MEU FILHO DE 07(SETE) ANOS.

INVASÃO Á ILHA DE KARAS.


Imagem: Gustavo Saldanha.

Oquei! Oquei!Oquei!Oquei! Notícia acima do arriba! Invadiram a Ilha de Karas! Contando ninguém acredita. De fato, invadiram a festiva “Ilha das Dodocas”.
Eles chegaram de madrugada em suas canoas, amaram suas barracas de lona em toda a extensão da praia e fincaram a bandeira do movimento. Era o MMS - Movimento dos Sem Status, composto por flanelinhas, donas de casa, cabeleireiras de R$ 1,99, seresteiros de churrascaria, peruas do subúrbio exalando alfazema suíça e todo os tipos clássicos das ralés. Foi um escândalo! Todo o sistema do colunísmo social ficou ameaçado com a tomada de seu símbolo maior.
Para negociar com os invasores manifestantes, foi mandado como “em viado” especial o colunista Antório Maricas, profundo conhecedor das calcinhas e cuecas da alta sociedade brasileira. Ao desembarcar na ilha, esta unanimidade do ódio nacional foi morta e esquartejada pela peble sedenta de sangue nobre. Como se esperava, ninguém, mas ninguém mesmo lamentou o fato. Na verdade alguns setores da sociedade passaram a apoiar o MSS só por causa desse incidente.
Os “jornalistas” tiveram a brilhante idéia de infiltrar no movimento um colunista desconhecido, do norte do país, para desintegrar as bases do levante. O escolhido foi Alan Palhinha, que recusou a investidura, apesar de nunca recusar nada do gênero, em função de estar muito ocupado promovendo uma feverção em uma creche, criando assim uma nova geração de mauricinhos, patricinhas, descolados e draqueens troantes.
Por fim, convocaram a exuberante Fulô de Elis, que, por ser brega por natureza e ofício, poderia passar despercebida no meio daqueles desvalidos. Disseram que tudo o que ela tinha que fazer era convencer aquela gente de que a “sociedade” é um clube fechado e que eles estavam fora, afinal de contas, para que serve o colunismo social além de promover o desastre ecológico, já que o papel vem da árvore...
Já inserida no movimento, nossa heroína fazia o seu belo trabalho quando, para o seu azar, foi descoberta (era a única que usava celular pós-pago). Felizmente foi poupada e depois papada por um líder humanitário do movimento que possuía uma benevolência enorme.
Instalado na Ilha, o MSS chegou ao extremo, promovendo eventos capazes de encravar até as unhas da socialite Deveras Boiola. Tinha feijoada de farofeiros, aniversário de grupo de pagode, concurso da tigresa, eleição do garoto e da garota colegial, campeonato de futebol (camisa x sem camisa), bingo de catuada, etc.
O MSS apresentou sua pauta de reivindicações para por fim a invasão: em primeiro lugar pediram para baixar o preço da revista, pois só tinham acesso a ela na recepção dos hospitais do SUS, também exigiram que sua filhas, mulheres, namoradas e afins tivessem suas fotos publicadas no magazine. Nada mais justo.
A editora de Karas prontamente aceitou as reeivindicações criando uma edição especial para as classes minoritárias, assim, mandou um fotografo lambe-lambe para produzir as fotos das beldades e um repórter policial para redigir a matéria, o preço da revista saiu por apenas R$ 1,99 e essa edição especial recebeu o título sugestivo de “Baratas”.
As dodocas, peruas e madames acostumadas a brilharem nas páginas da revista Karas, tomando seu chazinho com o dedo mindinho levantado, riam à toa: estavam vingadas!

SUPORTE.


Suporte nas costas o peso do mundo.
Do ventre, o filho pesa mais o caminho.
Da mulher pesa mais a indiferença
dos amigos, a distancia.
Do vinho e do mar, a ressaca.
Da boca pesa mais os dentes
Ou pesam mais as palavras?
Do suor pesa mais o trabalho
O salário, no mínimo pesa mais.
O olhar, de desalento pesa mais,
o de desaprovação é o que mais pesa.
Pesa o varão sobre o corpo esquio da donzela,
pesa o peso sobre o papel na mesa,
pesa o feijão depois da sesta,
pesa a dor depois do adeus,
pesa a sombra ante o eclipse,
pesa o medo ante o perigo.
Suporte o peso de tudo
e tudo mais é suportável.
A leveza é peso de que não carrega o próprio fado.

PARAÍSO.


A vida lhe tem sido ingrata, ou senão, tem escarnecido do pobre coitado. A sucessão de fatos adversos, o tem condenado a uma espécie de morte moral e social, lenta e fragmentada em outras mortes.
O casamento despencou na rotina e no excesso de falta financeira. Um ódio velado, nascido do fato de que um dia um foi apaixonado pelo outro, foi o fungo que durante os longos vinte anos se nutriu da incompatibilidade do casal, corroendo cada momento da vida em comum, vomitando sobre cada fagulha do amor que um dia os uniu. O matrimonio enfadonho foi sua primeira morte.
A segunda morte foi o divórcio, que ninguém se engane, ainda é pior que o casamento infeliz. A falsa sensação de liberdade se dissolve quando se percebe que o vinculo do matrimônio de fato é eterno, permanece o mesmo desrespeito, as mesmas aporrinhações, os mesmos problemas, a mesma falta de compreensão, de dialogo e companheirismo, só que tudo a distancia. O fato é que a distancia não é só do ex-cônjuge, é de tudo, da vida construída, dos filhos, de si mesmo.
A terceira morte foi o alcoolismo, que já existia em pequenas doses, e agravou em litros, depois do divorcio.
O fumo, foi a sua quarta morte. Não tão lenta como muitos imaginam, nem tão pouco menos dolorosa. Os pulmões, lesos e esfolados pelas dezenas de substancias tóxicas que neles se acumulavam, abriam-se em chagas pútridas. O fôlego se perdia e os degraus que surgiam em seu caminho se multiplicavam, um simples passeio se convertia em penosa jornada.
A quinta morte foi o desemprego que se deu em virtude da terceira e da quarta morte. A perda do ofício resulta no final em perda total da dignidade, do respeito e da condição humana. Se traduz em um olhar perdido nos dias de fome. No âmago da desesperança mora a escassez do mínimo necessário para sobrevivência.
A sexta morte foi ter sido surpreendido, em meio a quinta morte, pela notícia da doença da filha. Sofreu angustiado a impotência perante o inevitável. A sétima morte foi a certeza iminente de que sua meninhinha iria morrer.
A oitava morte foram todos os outros vícios que se acumularam. A dependência incontrolável a incontáveis substancias nocivas e proibidas por lei. O demônio entrava por suas veias, controlava sua mente, devorava seus neurônios sobreviventes e consumia seu corpo. Os anos encurtaram e a velhice precoce foi sua nona morte.
Naquela noite, chegou chapado. Era impossível dizer se só cheirou, se foi só pico, ou se apenas, como um lorde acendeu um cachimbo de latão, com pedras brancas, e fumou ao lado de uma família de sem-tetos embaixo de algum viaduto.
O barracão, improvisado com placas de zinco e madeira, sobras roubadas de outdoors,  estas ainda guardavam os restos dos anúncios que antes emolduravam (anúncios que vendiam carros, apartamentos caros e a juventude estampada das vitrines.), era quente, e no verão, depois de ter sido sido submetido a um sol escaldante, era acometido por um mormaço insuportável que tomava conta de todo o ambiente durante a noite. Acostumado ao calor, seu único morador, já quase o não sentia.
Ligou o rádio e foi saudado pela voz de Nelson Gonçalves. Inspirado abriu a garrafa de vodga (que nunca lhe faltou, mesmo depois de ter perdido o emprego e nem nos momentos financeiramente mais conturbados), acendeu um cigarro e sentou-se na beira do colchão, que também era uma cama improvisada no chão batido, fechou os olhos, embriagado e entorpecido pelo sono.
Pouco depois desperta atordoado, para sua surpresa ouvia a voz da filha lhe chamando lá fora. Era uma noite bem mais quente que todas as outras, ainda assim sentiu uma brisa suave entrar quando abriu a porta.
Ela estava linda, bem vestida e cheia de vida, nem parecia que tinha sofrido tanto naquele leito de hospital. Envolveu o pai com o um abraço e, em meio a um beijo suave disse: “vim te buscar”.
Vestiu o terno de linho branco, a muito esquecido, e, de mãos dadas partiu com a filha.
Do lado de fora um alvoroço: polícia, bombeiros, muita correria e gente desesperada. Não se sabe como, a favela, a começar pelo seu barraco, havia incendiado e já se contavam dezenas de mortos.

Ele nem ligava. Já se passavam das dez... Estava no paraíso!