O
rapaz era um cinéfilo, um viciado em filmes mesmo. Não gostava de futebol,
então as quartas, aos sábados e aos domingos ia rotineiramente ao cinema,
principalmente quando já tinha estourado todo o estoque de DVDs das locadoras
em que era cadastrado. Com uma agenda cheia assim, dispensava as baladas, talvez
por isso não tinha namorada, todavia, tinha liberdade plena para vê filmes de
qualquer gênero e categoria. Dos mais entediantes filmes de arte, daqueles que
a gente só assiste pra dá uma de intelectual, aos pitorescos filmes “B”, nada
escapava: animações infantis, terror coreano, apocalípticos, comédias
românticas, assistia a tudo. Saia de casa para o cinema sem se quer dá uma
olhadinha na programação na agenda cultural do jornal. Chegava lá, escolhia o
filme e pronto.
Reparou
que a moça da bilheteria, sempre na hora de passar o troco perguntava: “Aceita
o troco em balas?”, ele, gentil como sempre, aceitava e enchia o bolso com bombons
de hortelã e se dirigia à sala de projeção.
E
assim os dias se passaram e nunca haviam moedas para o troco, somente balas de
hortelã. Imaginou o lucro exorbitante que o dono do cinema tinha com as vendas
compulsórias dos bombons, e, na gratificante comissão que a mocinha da
bilheteria recebia a cada bombom vendido. Ficou puto!
Certa
tarde, após esperar pacientemente na fila chegou à bilheteria com um saco cheio
de balas de hortelã e disparou: “Uma entrada, por favor?”. A moça ficou
atônita.
“Desculpe
senhor, mas eu só posso aceitar o pagamento em dinheiro ou no cartão...” avisou a assustada atendente.
“Bom
– argumentou o rapaz – Eu venho neste cinema todos os dias, e sempre recebo meu
troco em balas de hortelã, não vejo problema nisso. Se eu posso receber o troco
em bombom, não há nada de errado em a senhora me vender o ingresso por estas
balas de hortelã. Pode contar, é exatamente o preço da entrada.”
A
moça, demonstrando sinais de nervosismo, afinal de contas a confusão já estava
armada e os outros clientes, que estavam na fila, se aglomeraram em frente a
bilheteria dando razão ao queixoso, tangenciou: “Bom, o senhor vai ter que vê
isso com o gerente....” diz a moça desconcertada. “Então, o chame, por
favor...” responde o rapaz.
Ninguém
mais entrou no cinema. Quem seria louco de perder o final de uma historia
dessas?
O
gerente chegou fingindo certa segurança, pois o avisaram antecipadamente da
situação, foi logo perguntando: “Algum problema?”
“O
problema é que a sua atendente não quer receber meus bombons em pagamento pelo
ingresso!”- exclamou o jovem.
“O
senhor há de convir que não é a moeda adequada ...”-retrucou o gerente.
“Mas,
é a moeda adequada para o troco? Pois é o que ela me devolve todas as vezes que
venho aqui! – disse o rapaz com indignação.
“Bom,
é um costume universal se dá o troco em bombons, todo mundo faz isso.”
“Sendo
assim,é um costume universal se chamar a polícia, quando a gente percebe que
alguém está sorrateiramente metendo a
mão no nosso bolso” – e começou a gritar
bem alto: “Polícia! Socorro! ladrão!”
O
gerente na maior calma: “Desculpe, senhor, mas, qual mesmo é o sabor de seus
bombons?
“São
balas de hortelã.”- respondeu.
“Por
que não disse logo? Eu adoro balas de hortelã...”- virou-se para a atendente
–“Ôh, Ritinha, pega logo esses bombons e vê se dá um desconto para o moço!!!”
A
gargalhada geral não ofuscou o riso de satisfação do rapaz.